Dra. Nathalia Sousa

Obesidade Sarcopênica no Idoso: Entenda os Riscos e Como Prevenir

A população mundial está envelhecendo. E com o avanço da idade, novos desafios para a saúde aparecem. Um deles, pouco comentado, mas cada vez mais comum, é a obesidade sarcopênica. Essa condição, que une duas situações de risco – a obesidade e a sarcopenia (perda de massa e força muscular) – traz impactos significativos na funcionalidade e na qualidade de vida do idoso.

O que é obesidade sarcopênica?

É uma condição caracterizada pela coexistência de excesso de gordura corporal (especialmente gordura visceral) e redução de massa magra, principalmente massa muscular. Isso compromete a força, o equilíbrio e a mobilidade do idoso.

Enquanto a obesidade aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e inflamação crônica, a sarcopenia está associada a quedas, fraturas e perda da autonomia. Juntas, elas potencializam os efeitos negativos uma da outra.

Como ela se desenvolve?

Vários fatores contribuem para o surgimento da obesidade sarcopênica:

  • Redução do metabolismo basal com a idade;

  • Sedentarismo;

  • Alteracões hormonais;

  • Inflamação crônica de baixo grau causada pelo excesso de gordura visceral;

  • Resistência anabólica, dificultando a formação de nova massa muscular;

  • Deficiências nutricionais, especialmente proteicas.

A gordura se acumula dentro dos músculos (lipotoxicidade), afetando sua função e promovendo inflamação. Isso cria um ciclo vicioso: mais gordura → menos músculo → menos movimento → mais gordura.

Quais os riscos?

Pacientes com obesidade sarcopênica têm risco aumentado de:

  • Quedas e fraturas;

  • Fragilidade e dependência funcional;

  • Hospitalizações frequentes;

  • Piora da qualidade de vida;

  • Maior mortalidade.

Como diagnosticar?

O diagnóstico da obesidade sarcopênica exige uma avaliação combinada da composição corporal e da função muscular. Não há um único exame que defina a condição, mas sim um conjunto de critérios. Os principais passos são:

1. Avaliação da massa corporal:

  • Índice de Massa Corporal (IMC) pode ser enganoso, pois não diferencia gordura e músculo. Um IMC normal ou alto pode esconder uma perda significativa de massa muscular.

  • Bioimpedância elétrica (BIA): mede a proporção de gordura e massa magra.

  • Absorciometria por dupla emissão de raio-X (DEXA): método de alta precisão para avaliar a composição corporal, incluindo gordura visceral e massa muscular apendicular (dos braços e pernas).

2. Avaliação da função muscular:

  • Força de preensão manual (dinamometria): avalia a força da mão e é um bom indicativo da força global. Valores abaixo de 26 kg para homens e 16 kg para mulheres sugerem baixa força muscular.

  • Velocidade da marcha: caminhar menos de 0,8 m/s é indicativo de baixa performance física.

  • Teste de sentar e levantar dacadeira em 30 segundos ou o teste de levantar-se e andar 4 metros (Timed Up and Go) também ajudam a avaliar o desempenho funcional.

3. Critérios diagnósticos sugeridos:

Segundo as diretrizes europeias (EWGSOP2) 

  • Presença de excesso de gordura corporal (avaliada por IMC, BIA ou DEXA)

  • Presença de baixa massa muscular (massa magra reduzida em relação ao peso corporal)

  • Presença de baixa força muscular e/ou baixo desempenho físico

A obesidade sarcopênica é diagnosticada quando esses três domínios estão comprometidos.

 

Existe tratamento?

Sim, e os melhores resultados vêm da combinação de estratégias:

1. Alimentação adequada

  • Ingestão proteica adequada (em torno de 1,2 a 1,5 g/kg/dia);

  • Alimentos ricos em leucina (como ovos, leite, carne, leguminosas);

  • Manutenção ou leve redução calórica, sem comprometer nutrientes;

  • Avaliação de deficiências de vitamina D e outros micronutrientes.

2. Exercícios físicos: a estratégia mais eficaz

O estudo publicado no New England Journal of Medicine mostrou que exercício combinado (aeróbico + resistido) é mais eficaz que apenas aeróbico ou apenas resistido para melhorar a performance física em idosos com obesidade.

  • O grupo que fez exercício combinado teve melhora de 21% no desempenho funcional;

  • O consumo de oxigênio (capacidade cardiorrespiratória) melhorou em 17 a 18%;

  • A força muscular aumentou em até 19%;

  • A perda de massa magra foi menor em quem fez musculação;

  • Todos os grupos que se exercitaram perderam peso e melhoraram qualidade de vida.

Recomendação: realizar musculação de 2 a 3 vezes por semana e exercícios aeróbicos moderados como caminhada, bicicleta ou hidroginástica.

3. Tratamento medicamentoso (casos selecionados)

  • Uso criterioso de terapia hormonal.

  • Investigam-se medicamentos como  inibidores de miostatina ainda estão em fase de estudo.

E para prevenir?

A melhor forma de lidar com a obesidade sarcopênica é agir antes que ela se instale:

  • Mantenha-se ativo durante toda a vida;

  • Alimente-se bem, com boas fontes de proteína;

  • Evite dietas restritivas sem acompanhamento;

  • Trate a obesidade com foco em manter a musculatura;

  • Faça acompanhamento médico regular.

Conclusão

A obesidade sarcopênica é um desafio crescente no envelhecimento. Ela não é apenas “ter gordura” ou “perder músculo”: é uma condição que compromete profundamente a saúde, o bem-estar e a independência do idoso.

A boa notícia é que há tratamento. E quanto mais cedo ele começar, melhores os resultados.

Referências:
Batsis JA, Villareal DT. Sarcopenic obesity in older adults: aetiology, epidemiology and treatment strategies. Nat Rev Endocrinol. 2018;14(9):513–537.
Villareal DT, et al. Aerobic or Resistance Exercise, or Both, in Dieting Obese Older Adults. N Engl J Med. 2017;376:1943–1955.

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Dra Nathália Sousa
Endocrinologista

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