Dra. Nathalia Sousa

Medicamentos à base de GLP-1: o que você precisa saber sobre os remédios mais modernos para diabetes e obesidade

Nos últimos anos, você provavelmente já ouviu falar de remédios como semaglutida e tirzepatida. Eles ganharam destaque não só no tratamento do diabetes tipo 2, mas também na perda de peso — com resultados que mudaram a forma como tratamos essas condições.

Mas o que talvez você ainda não saiba é que esses medicamentos pertencem a uma classe chamada agonistas do GLP-1, e que novas gerações estão surgindo com potencial para tratar doenças do fígado, problemas cardíacos, apneia do sono, Alzheimer e até vício.

Este post é baseado em um artigo publicado na Nature Reviews Drug Discovery em 2025, que reúne os maiores avanços sobre os medicamentos baseados em GLP-1 — e explica de forma clara por que eles são considerados um dos maiores marcos da medicina moderna.


O que é o GLP-1?

O GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) é um hormônio produzido no intestino logo após comermos. Ele tem várias funções:

  • Estimula a liberação de insulina

  • Diminui a produção de glucagon (outro hormônio que eleva a glicose)

  • Retarda o esvaziamento gástrico (a digestão fica mais lenta)

  • Reduz o apetite, agindo no cérebro

  • Promove sensação de saciedade

A partir dessas ações, cientistas criaram medicamentos que imitam o GLP-1 natural — os chamados agonistas do receptor de GLP-1 (GLP-1RAs) — para tratar diabetes e obesidade com eficácia e segurança.


Como esses medicamentos funcionam?

Eles atuam no corpo de maneira inteligente:

✅ Estimulam a produção de insulina somente quando a glicose está alta
✅ Reduzem o apetite ao agir em centros específicos do cérebro
✅ Ajudam a perder peso principalmente por redução da ingestão alimentar
✅ Podem melhorar a pressão, o colesterol e a função renal
✅ Estão sendo testados para outras doenças além do diabetes e obesidade


 

Quem são os principais representantes dessa classe?

1. Semaglutida (Ozempic®, Wegovy®)

  • Aplicação: 1x por semana

  • Doses: de 0,5 mg até 2,4 mg

  • Usos: diabetes tipo 2 e obesidade

  • Resultados: perda de peso média de 15% e melhora da glicemia

2. Tirzepatida (Mounjaro®, Zepbound®)

  • Aplicação: 1x por semana

  • Dose máxima: 15 mg

  • É um “duplo agonista”: age no receptor de GLP-1 e no de GIP

  • Resultados: perda de peso de até 21%, maior do que a semaglutida

Ambos já foram aprovados por agências reguladoras para tratar diabetes e obesidade, e estão sendo estudados para muitas outras doenças.


Quais doenças estão sendo investigadas com essas medicações?

A pesquisa mais recente aponta que os agonistas de GLP-1 podem ter benefício em:

🫀 Doenças cardiovasculares (infarto, insuficiência cardíaca)
🧠 Alzheimer, Parkinson e outras doenças neurológicas
💤 Apneia obstrutiva do sono
🍺 Esteatose hepática e NASH (doença gordurosa do fígado)
🦴 Artrite e osteoartrite
🧬 Redução de inflamação crônica
🧠 Transtornos alimentares e uso de substâncias (vícios)

Isso acontece porque o GLP-1 atua em múltimos órgãos do corpo, e seus efeitos vão além da glicose e do apetite.


A nova geração de medicamentos GLP-1: o que esperar?

O futuro traz novas opções ainda mais potentes, com:

🔹 Ação mais prolongada (injeções mensais)
🔹 Menores efeitos colaterais
🔹 Via oral (comprimidos no lugar de injeções)
🔹 Preservação da massa muscular durante a perda de peso
🔹 Composição personalizada (associação com outros hormônios)

Algumas dessas drogas já em fase de testes incluem:

  • Retatrutida (GLP-1 + GIP + glucagon)

  • Cagri-Sema (semaglutida + amilina)

  • Orforglipron (GLP-1 oral, sem necessidade de jejum)

  • VK2735 e GZR18 (potentes em perda de peso)


Qual é a diferença entre os medicamentos?

NomeAplicaçãoEfeito em HbA1c (%)Perda de peso (%)Uso aprovado
Exenatida2x ao dia~0,6 a 0,8~1–2Diabetes tipo 2
Liraglutida1x ao dia~1,0 a 1,5~3–4Diabetes e obesidade
Dulaglutida1x por sem~1,1~3–4Diabetes tipo 2
Semaglutida1x por sem~1,5–1,8~15 (até 20)Diabetes e obesidade
Tirzepatida1x por sem~2,0~20–21Diabetes e obesidade

Os efeitos colaterais são graves?

A maioria dos efeitos adversos são leves a moderados e melhoram com o tempo. Os mais comuns:

😣 Náusea
💨 Gases e distensão abdominal
💩 Diarreia ou constipação
🤢 Vômito, especialmente nas primeiras semanas

Com ajuste correto da dose, é possível reduzir muito esses efeitos.

⚠️ Raros efeitos: inflamação da vesícula (menos de 1%), pancreatite (em casos isolados), alteração da tireoide em pessoas predispostas.


E a massa muscular, perde junto com a gordura?

Sim, parte do peso perdido com esses medicamentos pode incluir massa magra, o que é natural, mas precisa ser controlado.

Por isso, os especialistas recomendam:

🏋️ Exercícios de resistência (musculação)
🍗 Dieta com proteína adequada
👩‍⚕️ Acompanhamento com endocrinologista e nutricionista

Estudos mostram que a combinação de exercício + medicação ajuda a preservar a massa muscular e melhora a composição corporal.


E se parar de tomar o remédio?

Os estudos mostram que grande parte do peso perdido pode voltar após a interrupção — principalmente se não houver mudanças de hábito.

🔁 Por isso, a ideia é que esses medicamentos sejam parte de um tratamento contínuo, como em outras doenças crônicas (ex: pressão alta).

🧬 Pesquisas estão em andamento para entender melhor quem pode parar e quem precisa manter, com base em genética e outros fatores.


O que vem aí?

Os próximos passos na medicina com GLP-1 incluem:

  • Tratamentos personalizados baseados no perfil do paciente

  • Remédios combinados para atuar em múltiplos mecanismos

  • Opções orais acessíveis, sem precisar de canetas ou refrigeração

  • Uso para prevenir obesidade, diabetes e doenças crônicas

  • Estudos em crianças e adolescentes com obesidade


Quando conversar com seu médico?

Você deve considerar avaliação com endocrinologista se:

✅ Tem obesidade ou sobrepeso com comorbidades
✅ Já tentou emagrecer sem sucesso com dieta e atividade física
✅ Tem diabetes tipo 2 de difícil controle
✅ Está em risco de doença cardiovascular ou esteatose hepática
✅ Tem histórico familiar de obesidade grave
✅ Quer evitar cirurgia bariátrica ou buscar alternativas modernas


Conclusão: um novo capítulo no tratamento da obesidade e do diabetes

Estamos vivendo um marco histórico na medicina. Pela primeira vez, temos medicamentos que ajudam de verdade na perda de peso, no controle do diabetes e na redução de riscos de infarto, insuficiência cardíaca e morte precoce — com segurança e resultados duradouros.

Mas tão importante quanto a medicação é o acompanhamento especializado, com ajustes de dose, avaliação da composição corporal, estratégias de longo prazo e acolhimento.

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Dra Nathália Sousa
Endocrinologista

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