Dra. Nathalia Sousa

Impacto da Genética na Obesidade: Como Identificar e Tratar

Obesidade é uma condição complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com sérios impactos sobre a saúde física e mental. Ela é frequentemente associada ao estilo de vida, incluindo dieta e níveis de atividade física, mas a genética também desempenha um papel crucial no desenvolvimento dessa condição. Entender a interação entre genética e obesidade é essencial para um tratamento eficaz e personalizado. Neste post, vamos explorar como a genética influencia a obesidade, como identificar essas predisposições genéticas e como tratá-las de forma mais eficaz.

O Que é Obesidade?

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, geralmente mensurado pelo índice de massa corporal (IMC), que é a relação entre peso e altura. Quando o IMC é superior a 30 kg/m², o indivíduo é classificado como obeso. A obesidade pode ser classificada de acordo com sua gravidade:

  • Obesidade Grau 1 (IMC entre 30 e 34,9)
  • Obesidade Grau 2 (IMC entre 35 e 39,9)
  • Obesidade Grau 3 (IMC superior a 40)

Ela é um dos maiores fatores de risco para várias doenças crônicas, incluindo diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardíacas, apneia do sono e certos tipos de câncer.

Entretanto, embora o IMC (Índice de Massa Corporal) seja amplamente utilizado para avaliar a obesidade, tem limitações importantes, pois não distingue entre massa muscular e gordura corporal, o que pode levar a diagnósticos imprecisos, especialmente em pessoas com alta massa muscular ou idosos com perda de massa magra. Já a bioimpedância, ao analisar a composição corporal de forma mais detalhada, permite uma avaliação individualizada, diferenciando a quantidade de gordura e músculo no corpo, além de identificar a gordura visceral, que é crucial para avaliar o risco de doenças metabólicas. Esse método oferece uma visão mais precisa da saúde do paciente, permitindo estratégias de tratamento mais personalizadas e eficazes para o controle da obesidade e a melhoria do estado físico geral.

Os valores de referência para obesidade por bioimpedância podem variar conforme o sexo, faixa etária e nível de atividade física do paciente. A seguir estão os intervalos de PFC(%  de gordura corporal) mais comuns, considerados pela literatura médica e diretrizes para o diagnóstico de obesidade:

1. Homens:

  • Normal: 10% a 20% de gordura corporal.
  • Sobrepeso: 21% a 24% de gordura corporal.
  • Obesidade: Acima de 25% de gordura corporal.

2. Mulheres:

  • Normal: 20% a 30% de gordura corporal.
  • Sobrepeso: 31% a 34% de gordura corporal.
  • Obesidade: Acima de 35% de gordura corporal.

Esses valores podem variar dependendo dos critérios e das referências utilizadas pelo dispositivo de bioimpedância. Alguns dispositivos são mais específicos e podem levar em conta outros fatores como a idade, sexo e nível de atividade física do paciente. Também é importante lembrar que a obesidade não deve ser avaliada apenas pelo percentual de gordura corporal, mas deve ser analisada em conjunto com outros fatores clínicos, como a distribuição da gordura (visceral vs subcutânea), histórico médico e presença de comorbidades.

O Papel da Genética na Obesidade

Embora o comportamento alimentar e o nível de atividade física desempenhem papéis importantes na obesidade, a genética tem um impacto significativo na predisposição de um indivíduo a ganhar peso. Estudos recentes sugerem que cerca de 40% a 70% da variação no peso corporal pode ser atribuída à hereditariedade, com genes influenciando tanto o apetite quanto o metabolismo energético.

2.1. Genes que Afetam o Apetite

Vários genes têm sido identificados como influentes na regulação do apetite e no comportamento alimentar. Um exemplo é o gene FTO (Fat Mass and Obesity-associated gene), que está relacionado ao aumento da gordura corporal. Pessoas com uma variante específica deste gene tendem a ter um apetite mais elevado, o que pode levá-las a consumir mais alimentos, especialmente os ricos em calorias. Outro gene importante é o MC4R (Melanocortin 4 receptor), que influencia a sensação de saciedade. Mutacões neste gene podem resultar em uma sensação reduzida de plenitude após as refeições, fazendo com que a pessoa coma mais do que o necessário.

2.2. Genes que Afetam o Metabolismo

O metabolismo, que regula como o corpo usa e armazena energia, também é parcialmente determinado pela genética. Alguns indivíduos têm uma predisposição genética para um metabolismo mais lento, o que significa que eles queimam calorias mais devagar, favorecendo o acúmulo de gordura. Genes como o ADIPOQ (adiponectin) e o LEP (leptina) têm sido associados ao controle do metabolismo da gordura e à resistência à insulina, fatores que influenciam diretamente o risco de obesidade.

A resistência à leptina, por exemplo, ocorre quando o cérebro não responde corretamente a esse hormônio que regula o apetite e o gasto energético, levando a um maior risco de ganho de peso. Indivíduos com resistência à leptina podem sentir fome constantemente, mesmo quando o corpo já tem reservas suficientes de gordura.

2.3. Influência da Microbiota Intestinal

Outro aspecto importante da genética na obesidade envolve a composição do microbioma intestinal. Estudos recentes demonstraram que a microbiota intestinal pode influenciar a obesidade ao afetar a digestão dos alimentos, a absorção de nutrientes e a regulação do metabolismo energético. A hereditariedade pode influenciar a quantidade e os tipos de microrganismos presentes no intestino, impactando o risco de obesidade. Além disso, o microbioma pode ser modificado por fatores ambientais, como dieta e uso de antibióticos, o que cria uma interação complexa entre genética e ambiente

Como Tratar a Obesidade Relacionada à Genética?

Embora a genética desempenhe um papel importante no risco de obesidade, ela não é um destino inevitável. O tratamento da obesidade genética requer uma abordagem personalizada, que leve em consideração os fatores genéticos, metabólicos, comportamentais e ambientais de cada paciente.

3.1. Intervenções Dietéticas Personalizadas

A base do tratamento da obesidade continua sendo uma alimentação saudável e balanceada. No entanto, para indivíduos com predisposição genética à obesidade, pode ser necessário adotar estratégias dietéticas personalizadas. Por exemplo, pessoas com variantes genéticas que aumentam o apetite podem se beneficiar de uma dieta rica em fibras e proteínas, que promove maior saciedade. Já aquelas com predisposição a um metabolismo mais lento podem precisar de ajustes na ingestão de calorias e nutrientes para otimizar o gasto energético.

3.2. Exercício Físico

A prática regular de atividade física é fundamental no manejo da obesidade, mas deve ser adaptada ao perfil genético e às condições físicas do paciente. Indivíduos com uma tendência genética à obesidade podem ter dificuldades em perder peso apenas com exercícios aeróbicos, sendo necessário incluir atividades de resistência e treinamento de força para otimizar a queima de gordura e o aumento da massa muscular.

3.3. Terapias Farmacológicas

Em alguns casos, medicamentos podem ser necessários para ajudar no controle da obesidade.As terapias farmacológicas têm se mostrado uma ferramenta importante, especialmente em pacientes que não obtêm sucesso com intervenções dietéticas e exercícios físicos. Esses medicamentos devem ser prescritos com base nas características individuais de cada paciente, levando em consideração fatores como o perfil genético, comorbidades associadas e possíveis efeitos colaterais. A utilização de fármacos no tratamento da obesidade deve ser parte de uma abordagem integrada, combinada com mudanças no estilo de vida, como dieta e exercícios, para melhores resultados a longo prazo.

3.4. Cirurgia Bariátrica

Em casos de obesidade grave (grau 2 e 3) que não respondem a tratamentos convencionais, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção. Procedimentos como o bypass gástrico ou a gastrectomia vertical têm mostrado resultados significativos na redução do peso e na melhora de comorbidades associadas à obesidade. Para pacientes com predisposição genética à obesidade, a cirurgia pode ser uma forma de reverter os efeitos do acúmulo de gordura.

Conclusão: A Importância de Identificar a Predisposição Genética e Tratar de Forma Personalizada

Compreender o impacto da genética na obesidade é fundamental para oferecer um tratamento mais eficaz e personalizado. Embora os fatores ambientais, como dieta e exercício, sejam cruciais, a genética também desempenha um papel importante na predisposição a essa condição. Identificar essas predisposições genéticas permite que o tratamento da obesidade seja ajustado para as necessidades individuais de cada paciente, aumentando as chances de sucesso.

Se você luta contra a obesidade ou acredita que pode ter uma predisposição genética para essa condição, é fundamental buscar a ajuda de um endocrinologista especializado. Eu, como endocrinologista, estou à disposição para avaliar sua saúde de forma completa e ajudá-lo a desenvolver um plano de tratamento eficaz e personalizado. Marque uma consulta comigo e juntos podemos traçar um caminho para melhorar sua saúde e qualidade de vida.

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Dra Nathalia da Cruz de Sousa Endocrinologista

Referências

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK573068/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28910990/

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