A cirurgia bariátrica é uma ferramenta poderosa no tratamento da obesidade, mas deve ser indicada com responsabilidade, em conjunto com uma equipe multidisciplinar.
Em abril de 2025, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a nova Resolução nº 2.429, que atualiza as regras para a realização da cirurgia bariátrica e metabólica no Brasil. A novidade mais importante é a ampliação das indicações para pacientes com IMC entre 30 e 35, além da formalização de critérios para adolescentes.
Neste post, você vai entender:
Quem pode fazer cirurgia bariátrica com as novas regras
Por que o tratamento clínico ainda deve ser a primeira escolha
Quais tipos de cirurgia são recomendados
Como funciona o acompanhamento pré e pós-operatório
O que mudou para adolescentes
Cirurgia bariátrica agora é permitida para pacientes com IMC entre 30 e 35
Antes da nova resolução, a cirurgia bariátrica era permitida apenas para:
IMC ≥ 40 kg/m²
IMC entre 35 e 40 kg/m² com comorbidades (diabetes, apneia, hipertensão etc.)
Agora, a cirurgia também pode ser indicada para pacientes com IMC entre 30 e 35 kg/m², desde que apresentem pelo menos uma das seguintes condições associadas:
✅ Diabetes mellitus tipo 2
✅ Doença cardiovascular grave com lesão de órgão-alvo
✅ Doença renal crônica precoce em pacientes com diabetes tipo 2
✅ Apneia obstrutiva do sono grave
✅ Esteatose hepática não alcoólica com fibrose
✅ Afecções com indicação de transplante
✅ Refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica
✅ Osteoartrose grave com limitação funcional
Essas novas indicações seguem o que já vinha sendo recomendado por diretrizes internacionais. A decisão agora está mais baseada em risco metabólico do que apenas no número do IMC.
Mas atenção: a cirurgia não deve ser a primeira opção
A nova resolução também reforça algo muito importante: a cirurgia bariátrica deve ser o próximo passo apenas após o insucesso do tratamento clínico supervisionado.
Ou seja, antes de pensar na cirurgia, o paciente deve passar por um período de acompanhamento com equipe especializada, que envolve:
Endocrinologista
Nutricionista
Psicólogo
Psiquiatra (quando necessário)
Avaliação comportamental
Mudanças no estilo de vida
Tentativa com medicamentos para emagrecimento, quando indicados
Esse cuidado progressivo tem como objetivo:
Estimular a perda de peso com medidas menos invasivas
Avaliar o grau de comprometimento e adesão
Identificar fatores de risco ou contraindicações
Preparar o paciente para mudanças de comportamento após a cirurgia
💡 Mesmo para quem tem IMC 30–35 com comorbidades, é necessário esse período de tratamento clínico antes de considerar a cirurgia.
Novas diretrizes para adolescentes
Outro ponto importante da Resolução CFM nº 2.429/2025 é a inclusão formal da cirurgia bariátrica para adolescentes.
Quais são os critérios?
IMC acima de 35 kg/m² com comorbidades graves
IMC acima de 40 kg/m² mesmo sem comorbidades
Maturidade emocional avaliada por psicólogo e equipe médica
Ausência de distúrbios alimentares graves ativos
Avaliação completa por endocrinologista
Consentimento dos pais e do próprio paciente
A idade mínima recomendada continua sendo a partir de 16 anos, mas casos excepcionais podem ser avaliados individualmente.
Quais cirurgias são mais recomendadas?
A resolução classifica os procedimentos em três grupos:
✅ Altamente recomendados:
Bypass gástrico em Y de Roux
Gastrectomia vertical (sleeve gástrico)
Ambos têm ampla evidência de segurança e eficácia para perda de peso e melhora metabólica.
🔄 Alternativas reconhecidas (especialmente para revisões):
Duodenal switch com gastrectomia vertical
Bypass gástrico com anastomose única
Bipartição do trânsito intestinal associada à sleeve
🚫 Não recomendados:
Banda gástrica ajustável
Derivação biliopancreática (Scopinaro)
E os procedimentos endoscópicos?
A nova resolução também reconhece os procedimentos bariátricos endoscópicos, como:
Balão intragástrico
Gastroplastia endoscópica (endosleeve)
Esses métodos são indicados para:
Pacientes com IMC entre 30–35 que não querem ou não podem fazer cirurgia
Etapa preparatória antes da cirurgia
Pacientes com contraindicações cirúrgicas
Onde a cirurgia deve ser feita?
A resolução exige que a cirurgia seja feita em hospitais de alta complexidade, com:
Equipe especializada
UTI disponível
Plantonista 24h
Estrutura adequada para obesidade grave (IMC > 60 kg/m²)
Isso aumenta a segurança do procedimento e reduz riscos.
Acompanhamento no pós-operatório: essencial para o sucesso
A cirurgia bariátrica não termina no centro cirúrgico. O sucesso a longo prazo depende do acompanhamento com a equipe por meses e anos após o procedimento.
Esse acompanhamento envolve:
Avaliação nutricional e suplementos (ferro, B12, cálcio, vitamina D)
Monitoramento de proteínas e massa muscular
Apoio psicológico e comportamental
Avaliação da composição corporal
Adaptação alimentar progressiva
Atividade física orientada
💡 O abandono do seguimento aumenta o risco de reganho de peso, desnutrição e deficiências graves.
Conclusão: a cirurgia bariátrica é uma ferramenta — e não um atalho
A atualização do CFM representa um grande avanço na abordagem da obesidade no Brasil, trazendo mais pacientes para dentro de um modelo estruturado e seguro de cuidado.
Mas é fundamental lembrar: o melhor resultado acontece quando a cirurgia é parte de um plano amplo, com mudanças sustentadas de estilo de vida e acompanhamento profissional.