Dra. Nathalia Sousa

Cirurgia Bariátrica em 2025: Novas Regras do CFM Ampliam Indicações e Reforçam o Acompanhamento Clínico

A cirurgia bariátrica é uma ferramenta poderosa no tratamento da obesidade, mas deve ser indicada com responsabilidade, em conjunto com uma equipe multidisciplinar.

Em abril de 2025, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a nova Resolução nº 2.429, que atualiza as regras para a realização da cirurgia bariátrica e metabólica no Brasil. A novidade mais importante é a ampliação das indicações para pacientes com IMC entre 30 e 35, além da formalização de critérios para adolescentes.

Neste post, você vai entender:

  • Quem pode fazer cirurgia bariátrica com as novas regras

  • Por que o tratamento clínico ainda deve ser a primeira escolha

  • Quais tipos de cirurgia são recomendados

  • Como funciona o acompanhamento pré e pós-operatório

  • O que mudou para adolescentes


Cirurgia bariátrica agora é permitida para pacientes com IMC entre 30 e 35

Antes da nova resolução, a cirurgia bariátrica era permitida apenas para:

  • IMC ≥ 40 kg/m²

  • IMC entre 35 e 40 kg/m² com comorbidades (diabetes, apneia, hipertensão etc.)

Agora, a cirurgia também pode ser indicada para pacientes com IMC entre 30 e 35 kg/m², desde que apresentem pelo menos uma das seguintes condições associadas:

✅ Diabetes mellitus tipo 2
✅ Doença cardiovascular grave com lesão de órgão-alvo
✅ Doença renal crônica precoce em pacientes com diabetes tipo 2
✅ Apneia obstrutiva do sono grave
✅ Esteatose hepática não alcoólica com fibrose
✅ Afecções com indicação de transplante
✅ Refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica
✅ Osteoartrose grave com limitação funcional

Essas novas indicações seguem o que já vinha sendo recomendado por diretrizes internacionais. A decisão agora está mais baseada em risco metabólico do que apenas no número do IMC.


Mas atenção: a cirurgia não deve ser a primeira opção

A nova resolução também reforça algo muito importante: a cirurgia bariátrica deve ser o próximo passo apenas após o insucesso do tratamento clínico supervisionado.

Ou seja, antes de pensar na cirurgia, o paciente deve passar por um período de acompanhamento com equipe especializada, que envolve:

  • Endocrinologista 

  • Nutricionista

  • Psicólogo

  • Psiquiatra (quando necessário)

  • Avaliação comportamental

  • Mudanças no estilo de vida

  • Tentativa com medicamentos para emagrecimento, quando indicados

Esse cuidado progressivo tem como objetivo:

  • Estimular a perda de peso com medidas menos invasivas

  • Avaliar o grau de comprometimento e adesão

  • Identificar fatores de risco ou contraindicações

  • Preparar o paciente para mudanças de comportamento após a cirurgia

💡 Mesmo para quem tem IMC 30–35 com comorbidades, é necessário esse período de tratamento clínico antes de considerar a cirurgia.


Novas diretrizes para adolescentes

Outro ponto importante da Resolução CFM nº 2.429/2025 é a inclusão formal da cirurgia bariátrica para adolescentes.

Quais são os critérios?

  • IMC acima de 35 kg/m² com comorbidades graves

  • IMC acima de 40 kg/m² mesmo sem comorbidades

  • Maturidade emocional avaliada por psicólogo e equipe médica

  • Ausência de distúrbios alimentares graves ativos

  • Avaliação completa por endocrinologista 

  • Consentimento dos pais e do próprio paciente

A idade mínima recomendada continua sendo a partir de 16 anos, mas casos excepcionais podem ser avaliados individualmente.


Quais cirurgias são mais recomendadas?

A resolução classifica os procedimentos em três grupos:

✅ Altamente recomendados:

  • Bypass gástrico em Y de Roux

  • Gastrectomia vertical (sleeve gástrico)

Ambos têm ampla evidência de segurança e eficácia para perda de peso e melhora metabólica.

🔄 Alternativas reconhecidas (especialmente para revisões):

  • Duodenal switch com gastrectomia vertical

  • Bypass gástrico com anastomose única

  • Bipartição do trânsito intestinal associada à sleeve

🚫 Não recomendados:

  • Banda gástrica ajustável

  • Derivação biliopancreática (Scopinaro)


E os procedimentos endoscópicos?

A nova resolução também reconhece os procedimentos bariátricos endoscópicos, como:

  • Balão intragástrico

  • Gastroplastia endoscópica (endosleeve)

Esses métodos são indicados para:

  • Pacientes com IMC entre 30–35 que não querem ou não podem fazer cirurgia

  • Etapa preparatória antes da cirurgia

  • Pacientes com contraindicações cirúrgicas


Onde a cirurgia deve ser feita?

A resolução exige que a cirurgia seja feita em hospitais de alta complexidade, com:

  • Equipe especializada

  • UTI disponível

  • Plantonista 24h

  • Estrutura adequada para obesidade grave (IMC > 60 kg/m²)

Isso aumenta a segurança do procedimento e reduz riscos.


Acompanhamento no pós-operatório: essencial para o sucesso

A cirurgia bariátrica não termina no centro cirúrgico. O sucesso a longo prazo depende do acompanhamento com a equipe por meses e anos após o procedimento.

Esse acompanhamento envolve:

  • Avaliação nutricional e suplementos (ferro, B12, cálcio, vitamina D)

  • Monitoramento de proteínas e massa muscular

  • Apoio psicológico e comportamental

  • Avaliação da composição corporal

  • Adaptação alimentar progressiva

  • Atividade física orientada

💡 O abandono do seguimento aumenta o risco de reganho de peso, desnutrição e deficiências graves.


Conclusão: a cirurgia bariátrica é uma ferramenta — e não um atalho

A atualização do CFM representa um grande avanço na abordagem da obesidade no Brasil, trazendo mais pacientes para dentro de um modelo estruturado e seguro de cuidado.

 

Mas é fundamental lembrar: o melhor resultado acontece quando a cirurgia é parte de um plano amplo, com mudanças sustentadas de estilo de vida e acompanhamento profissional.

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Dra Nathália Sousa
Endocrinologista

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